Aos destinatários


Autorretrato de Francis Bacon (1973)


Antes de criar esse blog, refleti sobre a maneira que gostaria de tornar público meu trabalho e estudos em torno da psicanálise, para além das instituições, sejam as universidades ou as próprias instituições psicanalíticas. Em suma, uma maneira de divulgar meu nome. Desde o primeiro momento, me foi claro um posicionamento quanto a divulgação através de redes sociais, como Facebook e Instagram. Ainda que exista a possibilidade de se criar conteúdos interessantes, há uma ampla diversidade de perfis “psi” nesses sites, o que me causa incômodo, principalmente pelo tipo de publicidade repetitiva, como, por exemplo, “5 maneiras de…”, geralmente com sugestões de como tratar algum tipo de transtorno, acompanhado de um “faça terapia”.

Tendo isso em vista, e a vontade de escrever sobre psicanálise, o blog foi a opção mais viável para essa tarefa e que, desde sua criação, tenho pensado sobre o que publicar. Hoje em dia, há vários conteúdos sobre psicanálise, dispersos pela internet, mesmo através dos blogs; seja para criticar, divulgar o próprio trabalho, fazer análises de obras de arte, etc. Tem muita coisa curiosa para ler, se deliciar e se divertir. Outras, nem tanto. Ainda que adentrar a teoria psicanalítica seja um campo que exige dedicação, porque demanda investimentos em forma de trabalho, seja ele por meio de análise pessoal, escrita, leitura, etc., é um campo que também pode ser divertido. 

Falando propriamente da clínica, o dispositivo analítico é condicionado pela relação que Jacques Lacan chamou de “intersubjetiva”, pois, geralmente envolto de sofrimento, aquele que procura um analista, lhe coloca na posição de “destinatário”, como quando se escreve uma carta. Mas, em psicanálise, ao invés de escrevermos cartas, nós falamos. De partida, temos duas posições diferentes: analista e paciente. Se o paciente procura um analista para lhe falar, cabe ao analista a tarefa de escutar, o que não é feito de forma passiva. Trata-se de mobilizar a fala analiticamente, que é, em síntese, fazer com que o sujeito fale, pois ao falar, falamos de nós mesmos, seja por meio de situações familiares, pensamentos, acontecimentos no trabalho ou nos relacionamentos amorosos, sonhos, angústia. Mobilizar a fala analiticamente, fazer com que o sujeito fale, remete ao método da psicanálise, que é a associação livre. Aquilo que é falado para um analista, é fragmentado, transforma-se em outras palavras, faz recordar outras histórias, e por isso o caráter livre da associação. Pode-se falar qualquer coisa, mas que não se trata de uma coisa qualquer.



Victor Hugo Martins
vhmpsi@gmail.com
48 99173-1259




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